Apresentado pela primeira vez em 1977, na capa da obra Fils, de Serge Doubrovsky, o termo autoficção ultrapassou as fronteiras da literatura e hoje se manifesta também no cinema, nas artes plásticas, no teatro e em outras expressões artísticas. Para explorar o conceito e seus desdobramentos no campo literário, o Podcast da EdUERJ recebeu Anna Faedrich, professora e autora do livro Teorias da Autoficção, livro publicado pela Editora da UERJ.
Inicialmente, a autoficção seria um termo para designar a fusão da autobiografia e a ficção na literatura. Contudo, o neologismo proposto por Dubrovsky é mais complexo do que aparenta, e esse é justamente o foco da discussão conduzida pela professora.
A convidada explicou que a autoficção pode ser compreendida como um romance em primeira pessoa no qual há uma identidade onomástica entre autor, narrador e personagem. “Existe um jogo dentro da autoficção em que você nunca sabe ao certo o que é ou não o autor, se os eventos narrados são verdadeiros, qual é o limite entre a realidade e a ficção”, contou a professora.
Faedrich destacou também que há uma diferença entre a autoficção e os romances autobiográficos. “Não é como a autobiografia, em que uma pessoa, no fim da vida, faz um retrospecto desde a infância. A autoficção não é isso. Ela parte de um fragmento, pode ser um divórcio, um luto, e a partir desse fragmento o autor elabora sua literatura.”, disse a autora.
Pesquisadora de autoficção desde 2009, Faedrich também comentou sobre a superexposição das pessoas nas redes sociais e sua possível relação com o conceito. Segundo ela, “nem sempre é exibicionismo, às vezes a pessoa só não tem a chance de publicar sua autoficção e aproveita aquele espaço também como um espaço de autocompreensão, de falar de si”.
Durante o episódio, a autora rebateu as ideias de críticos que veem a literatura de autoficção como algo banalizado e compartilhou um pouco sobre seu trabalho de resgate literário de escritoras brasileiras do século XIX, como Albertina Bertha, Júlia Lopes de Almeida e Narcisa Amália. “Elas publicavam em grandes editoras. Júlia Lopes de Almeida, por exemplo, foi uma best-seller. São escritoras que foram injustamente apagadas, e quanto mais você estuda, mais vê que elas eram integrantes do sistema literário”.
O Podcast da EdUERJ é um projeto da Editora da UERJ em parceria com o Audiolab, e está disponível no Amazon Music, Deezer, Spotify e YouTube.




