Carrinho de compras

Nenhum produto no carrinho.

Darcilia Simões fala sobre a 8ª edição de “A redação de trabalhos acadêmicos”

O Blog da EdUERJ conversou com Darcilia Simões, professora nos cursos de graduação, mestrado e doutorado do Instituto de Letras da UERJ. Ela é organizadora (junto ao professor Claudio Cezar Henriques) do livro “A redação de trabalhos acadêmicos: teoria e prática”(8ª edição).

O livro “A redação de trabalhos acadêmicos: teoria e prática”, lançado em 2002, chegou em 2019 à 8ª edição, como um dos best sellers da EdUERJ.  Qual você acredita ser o motivo para a tamanha receptividade do público?

Creio que a simplicidade com que são abordados os temas, de máxima importância para a educação superior.

O embasamento teórico é um diferencial em relação a muitas publicações que se restringem ao lado pragmático. Gostaria que você falasse um pouco sobre essa proposta.

Foi uma proposta deliberada levar ao graduando noções teóricas, juntamente com informações de natureza prática. A maioria dos breviários se resume a apresentar exemplos sem discussão dos fundamentos de cada um dos gêneros que atravessam a formação acadêmica dos sujeitos. Assim fazemos a diferença.

Você acredita que a escrita de trabalhos acadêmicos, principalmente da monografia, é ainda um “bicho de sete cabeças” para a maioria dos graduandos hoje?

Infelizmente isso é verdade. Acredito que a dificuldade não começa na monografia, mas na produção de textos em geral. Como a monografia tem características mais sofisticadas, o nível de dificuldade aumenta, e o estudante que já se sente inseguro na produção textual, certamente se sentirá amedrontado diante da obrigação de produzir uma monografia.

Como você vê a possibilidade de esse quadro vir a melhorar?

Penso que, se como na minha graduação, o estudante fosse levado a produzir artigos relativos a cada disciplina cursada, as dificuldades da produção da monografia iriam sendo minimizadas paulatinamente.

No capítulo “A produção de textos acadêmicos”, você argumenta embora existam muitos manuais de escrita, nem sempre o estudante consegue melhorar a sua performance. Por que isso ocorre?

Como já disse, o problema não é exclusivo da monografia, senão da produção escrita. Mesmo que a seleção para ingresso no ensino superior seja feita com ênfase na redação, o ensino de como redigir adequadamente ainda é muito insuficiente. No Ensino Médio, há um foco exclusivo na preparação para o ENEM e assim há um modelo específico de redação que é trabalhado exaustivamente, acabando por produzir o famoso “nariz de cera”, que é uma fôrma de redação que se aplica a qualquer tema. Dessa maneira, o aluno é treinado para um modelo apenas, e sua capacidade de criação quando da produção escrita fica embotada.

Quando isso não se dá, enfatiza-se a produção de cartas, crônicas e anúncios, que são textos curtos e que não têm a formalidade da língua exigida em um texto monográfico.

O ensino sem ênfase na estruturação gramatical, na seleção vocabular, enfim, em características relevantes relativas ao uso formal da língua, vem sendo deixado de lado, e o estudante, iludido com o descompromisso da gramática, se vê em “palpos de aranha” quando é levado a produzir um texto monográfico, cujo estilo exige domínio do uso formal da língua.

Um dos problemas que vemos hoje em dia e que se avolumam pela utilização da internet é a falta de ineditismo. Isto acontece na música, na literatura e em variadas modalidades de expressão. Como você avalia hoje o nível de ameaça que o ato de copiar impõe ao ensino?

Toda cópia sem escrúpulo é perigosa (quando não é criminosa!). A disponibilidade de cópia de tudo na internet aumenta o trabalho docente, pois temos que, além de tudo, ser caçadores de plágio. Por outro lado, o vício do recorta e cola, para dissimular a cópia, resulta em verdadeiros monstrinhos textuais, uma vez que não há critério na colagem, e, além da falta de inventividade, de trabalho com ideias própria, falta domínio gramatical para fazer os encaixes dos retalhos obtidos na web.

Também devemos considerar a preguiça mental que se desenvolve com a hipótese de que “tudo já está pronto na internet”. Os trabalhos ficam para a última hora e não passam de repetições mal feitas do já dito, sem qualquer reflexão. Logo, tudo isso atrapalha o crescimento intelectual dos estudantes e atravanca o trabalho didático que tem de se ocupar com trabalhos cuja autoria é, no mínimo, duvidosa.

Em relação à trajetória de A redação de trabalhos acadêmicos: teoria e prática, como vocês decidem se determinado tema merece ser objeto de um texto para uma futura edição?

Em geral, os acréscimos a uma obra, a meu ver, devem atender reivindicações dos leitores. Por enquanto o manual aprece atender a clientela. Mas estamos com ouvidos e olhos atentos a possíveis solicitações que venham a ensejar novos acréscimos ao livro.