Período de Copa do Mundo é aquele momento em que ocorre um fenômeno muito singular: misturam-se ao público cativo do futebol, pessoas que nada entendem do esporte, movidas apenas pelo intuito de enviar “vibrações positivas” para o escrete brasileiro. Entregar-se ao ato de torcer une gregos e troianos. Mas, afinal, por que diz-se que a seleção é a “pátria de chuteiras”?
Um livro, publicado pela EdUERJ em 2014 (antes da fragorosa derrota para a Alemanha), responde esta questão, entre outras. Copas do Mundo: comunicação e identidade cultural no país do futebol, organizado pelos professores Ronaldo Helal e Alvaro do Cabo, propõe-se a ir fundo nas raízes culturais e sociológicas de conceitos que, de tão encrustados, sugerem-se fatos indiscutíveis.
Mas, felizmente, o torcedor não precisa ficar acomodado em seu papel de expectador, dado que pensar sempre é possível. Qual o papel do futebol na autoimagem do brasileiro? Desde quando se atribui à seleção brasileira a missão de “defesa da honra nacional”? Por que se aprende desde criança que o Brasil é “o país do futebol”? Investigar qualidades supostamente inatas do Brasil não seria possível sem analisar os momentos em que a Seleção Brasileira consolidou-se como paixão comum de todas as classes sociais.
Copas do Mundo reúne 15 pesquisadores que apresentam ensaios sobre nove Copas do Mundo e uma Copa das Confederações, eventos selecionados principalmente pelo critério da dimensão simbólica de seus resultados na imprensa e na sociedade brasileira. Cada capítulo corresponde a um momento significativo de nossa memória esportiva, incluindo, claro, a derrota espetacular na Copa de 1950 e as cinco Copas do Mundo conquistadas. Além disso, o livro trata do legado de cronistas como João Saldanha, Armando Nogueira, Nelson Rodrigues e ainda Gilberto Freyre. Este, com a crônica “Foot-ball mulato” – publicada dois dias antes da final da Copa de 1938 –, tornou-se o primeiro intelectual a relacionar o estilo de jogar da seleção brasileira aos traços culturais nacionais.