“Entre o escudo e a azagaia: uma história política do Reino Zulu no século XIX”, de Evander Ruthieri da Silva, está entre os semifinalistas da primeira edição do Jabuti Acadêmico, iniciativa que é um desdobramento, com viés acadêmico, do mais tradicional prêmio literário do Brasil. O Blog da EdUERJ conversou com Ruthieri sobre seu livro, uma das publicações em destaque de 2023 da Editora da UERJ.
Blog da EdUERJ: “Entre o escudo e a azagaia”, de sua autoria, está entre os dez semifinalistas do Prêmio Jabuti Acadêmico na categoria História e Arqueologia. Você poderia descrever qual é a proposta do livro em questão?
Evander Ruthieri : Esse livro tem como objetivo principal apresentar, ainda que de forma introdutória, a história de um centro de poder político localizado no sul da África, e que ficou conhecido, ao longo do tempo, como “Reino Zulu”. Na primeira parte, o livro discute uma série de transformações sociais, políticas, econômicas e culturais que reverberaram no sudeste da África (atualmente, numa região de fronteiras entre a África do Sul, Moçambique, Zimbábue e Essuatíni) e levaram à formação do Reino Zulu por meio de uma série de relações políticas e econômicas. Na segunda parte, o livro trata dos impactos do colonialismo britânico na região, e também das iniciativas e resistências africanas diante da expansão colonial. Se trata de um tema ainda pouco estudado na historiografia brasileira, e, por isso, o livro visa apresentar a temática e instigar futuras pesquisas.
Blog da EdUERJ: O que essa indicação representa para você?
Evander Ruthieri: Penso que essa indicação, assim como nos casos de outros livros selecionados para a categoria História e Arqueologia, demonstra uma expansão no campo da história africana e afrodiaspórica, tanto em termos de pesquisa acadêmica quanto em termos editoriais. É um movimento muito saudável, e que demonstra o comprometimento dos autores e autoras com o avanço da pesquisa e ensino em história da África e história afro-brasileira. Pessoalmente, me sinto muito feliz e honrado com a indicação.
Blog da EdUERJ: Fale um pouco sobre o processo que culminou na publicação desta pesquisa. Como surgiu o interesse e quais os desafios em investigar a história política do Reino Zulu no século XIX?
Evander Ruthieri: Em partes, esse livro é um desdobramento da minha pesquisa de doutoramento, quando estudei as relações entre literatura e colonialismo no sul da África, a partir de romances de aventura publicados no final do século XIX. Os zulus eram personagens recorrentes em diversos desses romances e narrativas de viajantes da época. Além disso, o livro deriva da minha atuação e preocupação com o campo do ensino de história da África. Foi um livro idealizado para ser utilizado em disciplinas relacionadas à temática, sobretudo na formação de professores.
Blog da EdUERJ: Na sua opinião, qual é o mérito maior da obra? O que você destacaria como suas principais contribuições para o campo?
Evander Ruthieri: Penso que um dos principais méritos da obra tem relação com a sua contribuição para o campo dos estudos africanos e da história da África. Trata-se de um tema que ainda tem sido pouco estudado na historiografia, e que também tem uma contribuição importante para o ensino de história da África. Afinal de contas, é fundamental formar professores de História, e de outras disciplinas, com conhecimentos sobre a pluralidade de experiências que marcam os passados africanos.
Blog da EdUERJ: Além destas, quais são as principais contribuições que a pesquisa sobre a trajetória do Reino Zulu pode oferecer para a sociedade?
Evander Ruthieri: O estudo sobre a trajetória do Reino Zulu, de forma mais específica, e da história da África, de forma mais geral, tem uma contribuição importante para a sociedade, sobretudo por instigar à superação de visões preconceituosas e estereotipadas sobre as sociedades e culturas do continente africano. Conhecer mais sobre a história da África, a partir das iniciativas e agenciamentos africanos ao longo do tempo, nos possibilita igualmente problematizar as visões de mundo eurocêntricas, que colocam a Europa como força motriz da História. Além disso, o estudo da história africana tem uma contribuição importante para compreendermos melhor a própria formação da sociedade brasileira, tendo-se em vista a inegável presença histórica de africanos e afrodescendentes na história do Brasil e de outras sociedades latino-americanas.
Blog da EdUERJ: Você acredita que o livro apresenta um novo panorama para o campo no Brasil? Em que aspectos ele pode influenciar futuras pesquisas e estudos?
Evander Ruthieri: Espero que esse livro contribua para o movimento de ampliação do campo da história da África e dos estudos africanos no Brasil, sobretudo por focar na história de regiões do continente africano ainda pouco estudados na historiografia brasileira. Por isso, espero que o livro instigue e contribua para novas pesquisas, principalmente sobre as sociedades e agências africanas em períodos anteriores à invasão colonial europeia.
Entrevista a Laís Barreto Fernandes, por email.
O Entre o escudo e a azagaia pode ser adquirido no formato impresso (por demanda) ou digital: