Os caminhos percorridos por Brasil e Argentina em seus processos de industrialização apresentam traços em comum, não obstante resultados desiguais. Os motivos para a disparidade estão no cerne de “Ideias, burocratização e industrialização no Brasil e na Argentina”, de Renato Perissinotto, lançamento da Editora da UERJ. A obra tem como mérito sinalizar um esforço de comparação histórica no processo de desenvolvimento das duas nações, sem perder de vista, como fator preponderante, a influência das ideias das elites estatais no contexto da industrialização.
O recorte vai do período da conjuntura de 1929 e meados da década de 1960, de forma a se debruçar sobre a transição das economias agroexportadoras de dois países latinos que visavam a sedimentar novos parâmetros econômicos a partir de atividades industriais. O livro convida a entender quais paradigmas econômicos, assim como aspectos institucionais e políticos, foram cruciais nessas transições e, para isso, toma como crucial o ano de crise, 1929, que abalou a economia e sociedades pelo mundo.
Em seu enfoque, Perissinotto defende que as ideias, inerentes a cada uma das sociedades e a seus atores políticos foram os elementos decisivos para que a industrialização plasmasse resultados diversos em países de passado colonial.
Sobre a adoção dessa vertente de pesquisa calcada no poder das ideias – conhecida por ideacional – o autor explica, na introdução, que o ponto de vista teórico dessa forma de literatura “é a defesa de uma perspectiva interpretativista que atribui às ideias um papel ativo na configuração dos fenômenos sociais e políticos”. Nesse viés, o conceito de ideia não seria tão amplo que equivaleria a “visões do mundo” e nem pragmático ou instantâneo quanto normas decisórias. É nesse contexto em que os roteiros de Brasil e de Argentina se distanciam.
“A análise dos diferentes contextos mostrará como o cardápio de paradigmas econômicos disponíveis na conjuntura crítica de 1929 produziu opções de escolhas distintas quanto aos caminhos a seguir, revelando o poder das ideias de moldar os caminhos”, explica Perissinotto.
Brasil e Argentina sofreram impactos da grande crise de 1929 e acabaram por derrubar seus respectivos governos com o intuito de dar início às mudanças econômicas. Vale citar que a economia argentina era muito mais robusta até a primeira metade do século XX, ela possuía um parque industrial com mais predicados e se impunha como liderança manufatureira e como uma poderosa frente agroexportadora. Esse panorama a colocava em um patamar superior ao do Brasil, e justamente é essa a questão que instiga o autor: como essa conjuntura foi superada por uma economia tão mais modesta quanto a brasileira? E, tão relevante quanto essa pergunta, uma outra: quais aspectos – sociais, políticos, econômicos -devem ser observados se pretendemos desvendar essa situação?