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O que são “Territórios Psicossociais”?

O Blog da EdUERJ entrevistou a professora Regina Glória Nunes Andrade, uma das organizadoras de Território Psicossociais, livro que será lançado na quarta-feira, 25 de setembro, às 18h, na Casa de Leitura Dirce Côrtes Riedel, em Botafogo. Ela deu detalhes sobre a publicação, organizada também por Cibele Mariana Vaz de Macêdo e Ricardo Vieiralves de Castro.

Blog da EdUERJ: Professora Regina, poderia contar como surgiu a inspiração para o lançamento do livro Territórios Psicossociais?  

Esse livro complementa dois outros livros, financiados pela FAPERJ. Ele surgiu a partir das reflexões sobre a diversidade de temas de pesquisa em Mestrado e Doutorado no Programa de Pós-graduação em Psicologia Social. Muita gente sabe do que se ocupa a Psicologia Clínica e as condições individuais. Porém poucos sabem que o psicólogo social está habilitado a analisar e a trabalhar com grupos, com situações sociais e prejuízos nas sociedades. Estamos envolvidos com agrupamentos sociais, por comunidades artísticas, religiosas, ou com as populações vulneráveis e carentes, como os refugiados e migrantes.

Blog da EdUERJ: O que caracteriza os “territórios psicossociais” discutidos no livro? Quais são as características que norteiam esse conceito? 

Os territórios são caracterizados por construções que surgem em grupos especiais como são “a identidade das esposas de militares, residentes na Vila Militar de Deodoro” ou por comunidades particulares como a favela do CALABAR em Salvador-Bahia. Na sociedade há configurações de grupos circundados por características especiais. Os territórios psíquicos são também criados, como por exemplo, os territórios de internet ou de W.W.W. Vale ressaltar que por vezes temos capítulos que discutem condições que surgem nos territórios como e o caso do artigo A revolta do senso comum; ensaios sobre os novos territórios psicosociais que traz uma empolgante reflexão sobre as Ciências Humanas e Sociais..

Blog da EdUERJ: Por que hoje o tema vem ganhando destaque? 

O destaque das pesquisas surge das necessidades de observação e de proximidade do pesquisador. Hoje há um destaque sobre os territórios porque eles representam agrupamentos de pessoas e de estratos sociais com características muito diversas. A cada momento o olhar do pesquisador se volta para conhecer o que é pouco conhecido, cada vez mais a pesquisa dos métodos qualitativos e participativos são identificados como os melhores meios de se desvelar o social. Como iriamos conhecer a Velha Guarda da Portela se a pesquisadora não estivesse presente muitas vezes e não escrevesse o capítulo Cidade, música e Território?

Blog da EdUERJ: De que maneira o livro aborda a relação entre os territórios psicossociais e as questões de justiça social e desigualdade? 

Como o livro e uma antologia de artigos que vem de vários grupos com vários objetivos, alguns autores tem a preocupação das questões de justiça social e de desigualdade. Outros porém se voltam para as expressões, para o futuro de uma determinada população como e o artigo Vidas paralelas migrantes Brasil-França, resultado de uma pesquisa de cinco anos no Brasil e na França patrocinado por um Projeto CAPES COFECUB. O capítulo sobre Maternidade, violências e feminilidades: um diálogo transdisciplinar escrito por três pesquisadores eh praticamente uma denúncia sobre mães solos, jovens e carentes.

Blog da EdUERJ : Como você contextualiza a internet dentro dos estudos sobre território? A internet como território trava uma disputa com os espaços físicos do cotidiano? 

Essa discussão sobre o digital é uma contribuição importante nos estudos sobre o território, visto que o território digital se tornou parte importante de nossa sociedade. Não se trata mais de contrapor os dois espaços e sim compreender que esses limites hoje se interpenetram, o físico e o virtual foram redimensionados a partir da revolução digital. O capitulo Territórios digitais e o “nascimento da clinica” psicoterapia virtual revela os processos de ocupação do ciberespaço, que vinham ocorrendo de forma gradativa, que se aceleraram absurdamente durante a pandemia. A exigência de isolamento físico fomentou uma ocupação maciça do território digital, com práticas sociais, profissionais, culturais e etc: esse é um campo no qual a psicologia social tem vasta oportunidade de pesquisa pelo seu potencial transformador na cultura.

Blog da EdUERJ: Você poderia citar alguns assuntos tratados pelos capítulos? 

Sim, já vim destacando alguns dos capítulos do livro, mas chamo a atenção para um trabalho brilhante patrocinado pela FAPERJ e pela UERJ de mais de seis anos na Comunidade da Mangueira, no Centro Cultural Cartola, intitulado Afinando as emoções no Centro Cultural Cartola e Programa Aventureiros no Rio de Janeiro que são dois trabalhos realizados com jovens habitantes da Comunidade da Mangueira e ambos com método qualitativo participativo. Poderia destacar o capítulo sobre O espaço dos territórios da história muito importante para a psicologia social pois na raiz dos acontecimentos que marcam a formação dos grupos esta sua “historia”. Os artigos que não foram aqui destacados são tão importantes quanto os que foram, porque fazem parte de um significante importante para as Ciências Humanas e Sociais. 

Blog da EdUERJ: Por fim, qual você considera a maior contribuição do livro Territórios Psicossociais para leitores acadêmicos e profissionais da área? 

Considero a maior contribuição deste livro sobre TERRITORIOS PSICOSSOCIAIS, a realidade de podermos  e de termos adentrado em grupos sociais, comunidades, bairros especiais como o território da Cinelândia, no Rio de Janeiro, conhecido mundialmente, em que foi investigado “os processos de subjetivação” de seus moradores. Para a conquista de um território psicossocial muitas condições são exigidas. A mais importante de todas batiza nosso grupo de pesquisa que é o que chamamos de “ANCORA”. Nada faremos como pesquisadores participativos e qualitativos se não tivermos a abertura das instituições, das comunidades e, sobretudo se não contarmos com aqueles profissionais que estão no campo, que trabalham, la,  cotidianamente,  e que nos abrem o espaço que vamos investigar. Sem “ANCORA”, não há território de pesquisa.

O lançamento de Territórios Psicossociais será na quarta-feira, 25 de setembro, na Casa de Leitura Dirce Côrtes Riedel, na Rua das Palmeiras 82, Botafogo.