O décimo terceiro episódio do Podcast da EdUERJ, traz como convidado o professor Sérgio Nazar, do instituto de letras da UERJ, e um dos responsáveis pela edição do clássico da literatura portuguesa “Memória dum doido” de António Pedro Lopes de Mendonça, até então inédito no Brasil. Essa edição, que saiu este ano pela Coleção EdUERJ de Bolso, contou também com Helena Carvalhão Buescu, professora catedrática da faculdade de letras da Universidade de Lisboa, que ficou responsável pela nota bibliográfica e introdução, e com Julianna Bonfim, que, junto ao professor Sérgio Nazar David, cuidou da Edição Crítica.
No podcast, o professor Nazar falou de Maurício, o controverso personagem de Memórias dum doido, muito parecido aos jovens estudantes de classe média baixa da época. “Ele está no mundo da cidade e busca uma ascensão social, tema clássico que também aparece em outras obras do período, como, por exemplo, em Senhora do Alencar ou em Ilusões Perdidas de Balzac”. Na trama, Maurício, mesmo sem dois tostões no bolso, frequenta os salões da aristocracia, e se apaixona por uma viscondessa perversa, acabando “doido”. Levando em conta o fato de que o autor António Pedro Lopes de Mendonça passou os últimos cinco anos de sua vida internado no Hospital de Rilhafoles, o livro ganhou uma carga premonitória.
Um dos aspectos tratados no Podcast da EdUERJ foi justamente a semelhança entre o protagonista Maurício e António Pedro Lopes, o autor da obra. Isto costuma gerar a dúvida se o livro deve ser considerado um texto biográfico ou de autoficção. De acordo com a análise de Sérgio Nazar, “é óbvio que, como toda boa literatura, as experiências e as vivências do autor estão presentes ali, não de forma direta, mas modificadas por esse filtro da criação”. E acrescenta: “O conhecimento que temos da trajetória de Antonio Pedro Lopes nos permite dizer que há elementos ali que aparecem no livro, que são de suas vivências, mas não se pode chegar ao ponto de dizer que ocorra uma autoficção, porque um elemento fundamental da autoficção é fazer de si mesmo personagem da obra e isso nós não temos no livro”.
A quinta edição de Memórias d’um doido não é destinada somente ao público universitário, mas para o público em geral. “Um jovem pode gostar de ler, pois é um bom livro, recheado de notas de rodapé, que facilitam a leitura”, explica o entrevistado. Para o professor, trata-se de uma história envolvente contada de forma moderna: “Não é uma narrativa linear, é um romance que tem diário, que tem carta, narração, e essa forma multiforme faz dele um livro que certamente pode atrair o leitor”.
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