O Blog da EdUERJ entrevistou a professora Ana Maria de Almeida Santiago, pró-reitora de extensão e cultura da UERJ. Ela é uma das organizadoras do livro “Universidade, extensão e sustentabilidade: reflexões da semana do meio ambiente da UERJ 2024”. Durante a entrevista, a professora explicou a maneira como a publicação dialoga com os temas da COP30 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas) e destacou a importância da educação ambiental e da extensão universitária.
Blog da EdUERJ: Como surgiu a ideia de organizar o livro Universidade, extensão e sustentabilidade: reflexões da Semana do Meio Ambiente da UERJ 2024?
A Semana do Meio Ambiente da UERJ (SMA) foi instituída por meio do AEDA 010 (Ato Executivo de Decisão Administrativa) – Reitoria, publicado em 23 de maio de 2018, com o objetivo de “[…] reunir a divulgação, as ações desenvolvidas e eventos organizados pelos componentes organizacionais da Universidade relacionados ao meio ambiente.” Esse documento prevê que a Pró-reitoria de Extensão e Cultura (PR3) assuma o papel de integradora das ações e das atividades realizadas nos diversos campi da Universidade durante a Semana.
Em 2024, a SMA ocorreu entre 3 e 7 de junho, contando com o apoio da Reitoria, das demais Pró-reitorias e da Prefeitura dos Campi. O evento foi articulado à Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU) e teve a sua programação organizada a partir dos eixos propostos no AEDA: Dia Nacional da Educação Ambiental (03/06); Dia Mundial do Meio Ambiente (05/06), que em 2024 abordou o tema “Acelerar a restauração da terra e a resiliência à seca e ao progresso da desertificação”; e Dia Mundial dos Oceanos (08/06), que incentivou a discussão sobre o impacto das mudanças climáticas no oceano e a promoção de ações para sua preservação.
Devido à importância das temáticas abordadas na diversificada programação da SMA, na sessão de abertura, a Magnífica Reitora, Professora Gulnar Azevedo, solicitou a apresentação de um relatório que contemplasse as contribuições da comunidade acadêmica da Uerj para o monitoramento da conjuntura de crise climática e a proposição de alternativas voltadas à redução de seus efeitos, colaborando para a construção de políticas públicas. Tendo em vista a abrangência, a diversidade e a profundidade dos debates desenvolvidos ao longo da SMA, entendemos que essa demanda seria melhor realizada com a organização de um livro, contribuindo para a divulgação das profícuas discussões realizadas.
Blog da EdUERJ: Você poderia falar de alguns temas abordados pelo livro?
A coletânea apresenta artigos que exibem um conteúdo temático significativamente diversificado, pois traz os conhecimentos compartilhados em palestras, mesas-redondas e exposições, além de relatos das atividades, oficinas e rodas de conversa. O livro possui cerca de 70 autores e 21 capítulos, distribuídos em quatro eixos temáticos: Mudanças climáticas e preservação ambiental; Sustentabilidade ambiental; Ações de sustentabilidade na Uerj e Extensão universitária, educação e arte.
No eixo mudanças climáticas e preservação ambiental, são apresentadas análises de como essas transformações são impulsionadas pelo aumento das emissões de gases de efeito estufa. Isso provoca a alteração dos padrões climáticos, eleva as temperaturas globais e causa uma série de impactos ambientais tais como o aumento do nível do mar, a desertificação e a perda de biodiversidade.
No eixo sustentabilidade ambiental, abordam-se aspectos que envolvem as políticas ambientais, a agroecologia, a agricultura urbana e as territorialidades socioambientais. Dois outros pontos merecem destaques nesta parte do livro: a reflexão sobre o racismo ambiental e a proposição de soluções com sustentabilidade para o controle das inundações na Bacia Hidrográfica da Lagoa do Rio Guaíba, no Rio Grande do Sul, que havia sido atingida por um grave desastre ambiental.
No terceiro segmento, são apresentados aspectos relacionados à sustentabilidade na administração pública, com foco no Programa Agenda 2030 na UERJ, na gestão de resíduos no Hospital Universitário Pedro Ernesto, e em ações realizadas no Instituto Politécnico da Uerj, em Nova Friburgo.
No último segmento apresentam-se textos que analisam a educação ambiental crítica, bem como o papel da extensão universitária na educação ambiental, incluindo ações da Faculdade de Tecnologia da Uerj e do Centro de Desenvolvimento Sustentável, no campus Ilha Grande.
Blog da EdUERJ: A COP30 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas) está prevista para acontecer no Brasil em 2025, um marco importante nas discussões globais sobre meio ambiente. Você acredita que os artigos presentes na coletânea dialogam com temas que estarão em pauta na conferência?
Há um profundo diálogo entre as ideias reunidas no livro e os temas a serem discutidos na COP30, mas há também uma visão crítica do modo como as discussões globais têm sido desenvolvidas.
Nos artigos apresentados, destaca-se a importância de se comemorar o Dia Mundial do Meio Ambiente como uma excelente oportunidade para reflexão sobre nossas ações e responsabilidades, especialmente sobre como nossa forma de viver e de nos organizarmos socialmente afeta o planeta. Os três eixos da Conferência – crescimento econômico, progresso social e preservação ambiental – são analisados a partir de uma visão complexa e sistêmica de longo prazo, que engloba preocupações com o meio ambiente, a equidade, a justiça social e o desenvolvimento econômico.
Além disso, os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) estão presentes nos artigos, bem como uma reflexão sobre os limites da Agenda 30, dos ODS e dos acordos internacionais, no contexto capitalista. Essa diversidade é uma característica da nossa universidade, capaz de englobar em um único evento um amplo leque temático. Assim, a Uerj cumpre seu papel como uma universidade pública, inclusiva e de qualidade, junto à sociedade fluminense.
Blog da EdUERJ: Como você avalia iniciativas como a Semana do Meio Ambiente da UERJ na promoção da sustentabilidade?
Trata-se de uma oportunidade de refletirmos coletivamente sobre formas de contribuirmos para a sustentabilidade, em seus diversos níveis: institucional, local, nacional e global. A SMA permite também que avancemos na percepção de que a sustentabilidade assume uma dimensão humana. Isso porque não há sustentabilidade se houver pobreza e injustiça social, por exemplo.
Blog da EdUERJ: Diante dos desafios ambientais que enfrentamos hoje, como você enxerga o papel da educação ambiental na construção de uma sociedade mais sustentável?
A educação ambiental surge como campo de saber justamente em função da crise ambiental. Considerando seu caráter inter e transdisciplinar, a EA é fundamental para promover um conhecimento complexo sobre a crise ambiental e uma reflexão acerca do modelo socioeconômico predominante, entendido como raiz da crise. As metodologias participativas, o recurso ao lúdico e a organização por projetos, contribuem fortemente para o envolvimento das pessoas, sua sensibilização.
Blog da EdUERJ: Na sua visão, quais são as questões ambientais mais urgentes que precisam ser discutidas e enfrentadas hoje?
O modelo socioeconômico atual precisa ser entendido como um padrão que “mói” as condições de sobrevivência do planeta. Essa compreensão é um desafio. Ao enfrentarmos esse desafio, trataremos das urgências do momento: a pobreza, a desigualdade social, o consumismo e a perspectiva de que o lucro justifica todo nível de exploração dos bens naturais coletivos.
Blog da EdUERJ: Que público vocês desejam atingir com essa coletânea? Ela foi pensada para circular também fora do meio acadêmico?
A coletânea é muito diversa. Ensino, pesquisa, extensão e cultura estão presentes nos textos nela reunidos. Nesse sentido, o público extravasa para além do ambiente acadêmico. Esperamos, por isso, que o livro, em formato digital e impresso, circule em diferentes contextos nos quais a crise ambiental tem sido debatida e, dessa forma, possa cumprir o objetivo mais amplo de influenciar a formulação de políticas públicas.
Blog da EdUERJ: Há planos para novas edições ou publicações semelhantes nos próximos anos?
Sim. Entendemos que a organização da coletânea foi uma ação acertada da PR3, pois registra a diversidade e a qualidade da produção acadêmica divulgada na SMA. Vamos manter o projeto, ampliando seu alcance e avaliando os textos por um comitê editorial.
Universidade, extensão e sustentabilidade: reflexões da semana do meio ambiente da UERJ 2024 está disponível em versão impressa e digital e é organizado por Ana Maria de Almeida Santiago, Alzira Batalha Alcântara, Thereza Christina de Almeida Rosso, Marcia Lisbôa de Oliveira e Patrícia Lima Pereira Peres.