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Uma reflexão sobre cultura negra e cidadania no Rio de Janeiro

Nas últimas décadas do século XIX , o ritmo sincopado da música que emanava de bailes atraía cada vez mais gente. Era impossível ignorar o que estava acontecendo. Eram os primórdios de um movimento que levaria o escritor Olavo Bilac a afirmar, em 1906, que o “Rio de Janeiro é a cidade que dança”. Essa definição está no título de um lançamento que é fruto de parceria da EdUERJ com a Editora da Unicamp.

A cidade que dança – clubes e bailes negros no Rio de Janeiro (1881-1933), de Leonardo Affonso de Miranda Pereira, traz pistas para que se compreenda a história dos grêmios dançantes do Rio de Janeiro, assim como o papel que essas associações desempenhavam como espaço de reafirmação da identidade do cidadão negro e de sua inserção no meio social.

Bailes como o Flor do Rosário, o Rosa Branca ou o Ameno Resedá e tantos espalhavam-se pela cidade, propiciando diversão, cultura e confraternização. Contudo, ainda que não fossem proibidos, os bailes eram associados constantemente, pela polícia e por parte da imprensa, à violência e à promiscuidade, denotando os valores racistas preponderantes da sociedade.

O autor procurou se contrapor às análises mais comuns, de estudiosos que subestimavam qualquer possibilidade de ação para ex escravos e seus descendentes diante das estratégias forjadas no período para impedir a participação popular na ainda jovem república. Essas análises negligenciaram as trilhas escolhidas para o processo de afirmação social. Nas agremiações dançantes, mais do que lazer, os frequentadores reafirmavam a identidade e a cultura negras, ao mesmo tempo em que sobrepujavam a tentativa de controle que a república lhes impunha, principalmente por meio da polícia.

A pesquisa teve como base diversos registros, como jornais da época e até mesmo peças de teatro. O autor procurou o ponto de vista de literatos como Olavo Bilac, João do Rio, Lins de Albuquerque, Coelho Netto, Baptista Coelho Viriato Corrêa, Machado de Assis, Francisco Guimarães, Lima Barreto e Gilberto Freyre, entre outros.

Obra multidisciplinar que abrange sociologia, história e estudos culturais e literários, “A cidade que dança” delineia uma crônica urbana da cidade do Rio de Janeiro e de seus habitantes, ao mesmo tempo em que evoca os mecanismos de exclusão de outrora cujos resquícios ainda se fazem presentes em nossos dias.