Em 11 de março de 2020 a Organização Mundial da Saúde instituiu formalmente a pandemia de Covid-19, reconhecendo, assim, que a humanidade estava sob ameaça. Coube a cada país organizar-se da melhor maneira para proteger suas populações. Dali nascia, quase que ambiguamente, a necessidade de isolamento e também a de que as pessoas se conectassem em prol dos cuidados a serem tomados e, no caso dos cientistas e pesquisadores, de descobertas como vacinas e novas medicações contra a crise instituída. Localmente, alguns países foram mais bem-sucedidos do que outros, contabilizando menos vítimas fatais. O Brasil teve cerca de 700 mil óbitos. Esse índice somente já justificaria plenamente os esforços que acadêmicos vêm fazendo para buscar o entendimento sobre o período.
Entre eles, vale a pena conferir “Covid-19 e agendas de pesquisa nas ciências sociais”, organizado por Fernando Fontainha e Carlos R.S. Milani, fruto de estudos empreendidos pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP-UERJ) com intuito de analisar como a pandemia foi processada pela sociedade brasileira. A crise na saúde que tomou de assalto o planeta constitui um assunto vasto e complexo em se tratando de um país com tantas lacunas estruturais como o Brasil. A publicação da EdUERJ traz reflexões sobre tema assinadas por especialistas das áreas de sociologia, antropologia, ciência política, economia, entre outras.
A obra evidencia como a pandemia ganhou contornos dramáticos frente às características do mandatário da época, que articulou uma política na área de saúde que ora subestimava, ora negligenciava, as estratégias de combate ao vírus preconizadas pela OMS e por médicos de diversas regiões do mundo. Esse embate entre a sociedade bolsonarista e a premência do combate ao vírus está no cerne da coletânea.
Os capítulos são fiéis ao refletirem sobre o panorama de uma sociedade que passou a conviver com o estresse, não só devido ao medo desencadeado pela pandemia, mas também pelo conturbado cenário político. Nessa área, havia um reiterado conflito entre poderes e uma erosão democrática e, no que tange à saúde, uma insistência em desvalorizar a vacina, em indicar remédios ineficazes e de estimular o “convívio” social sem as devidas precauções. O livro da EdUERJ pesquisa como essas políticas reverberaram na desigual e então fragilizada sociedade brasileira, afetando o mundo do trabalho, as pautas ambientais, as agendas de pesquisa, a economia e as relações internacionais, entre outras perspectivas.
A publicação representa os esforços acadêmicos para que esse período da história brasileira continue sendo discutido e compreendido.