A professora Roberta Martinelli e Barbosa, autora do livro “Disputas Festivas: Festas Reais do Rio de Janeiro Colonial e do Mundo Atlântico (EdUerj, 2023),” concedeu uma entrevista reveladora ao Podcast da EdUerj. Com um olhar aguçado sobre as festas coloniais, ela desvenda as complexidades por trás desses eventos que marcaram a história do Brasil.
“As festas no Rio Colonial desempenharam um papel crucial na construção de laços de vassalagem entre a população colonial e a coroa portuguesa” declarou Roberta ao apresentador Zander Lima. “Elas eram apresentadas como proclamações de ordem e harmonia, mas por trás dessa fachada, ocultavam-se disputas de precedência e conflitos entre grupos sociais”.
Um aspecto intrigante da pesquisa levantado pela pesquisa da professora foi a ausência da Irmandade dos Homens Pretos nas festas de celebração do nascimento do príncipe da Beira em 1762, enquanto a Irmandade dos Homens Pardos obtivera destaque. “Isso revela uma busca por identidade entre os homens pardos, que desejavam se distanciar de outros grupos” declarou, ao pontuando que os integrantes dessa Irmandade eram, em sua maioria, ajudantes de ourives e se vestiam como europeus. Eles faziam isso de modo a se diferenciar de outros homens pardos que trabalhavam em funções consideradas por eles como “inferiores”.
O estudo de Roberta demonstra como as festas reais, organizadas pelas câmaras municipais, ainda que seguissem um padrão geral, eram moldadas por diferentes grupos sociais de acordo com suas expectativas e experiências locais. “As festas eram ferramentas de dominação, sendo organizadas inclusive após derrotas para reforçar a lealdade à coroa” contou a professora. No entanto, ressaltou que durante períodos de agitação política, como a Conjuração Baiana, as autoridades coloniais ficavam apreensivas.
O trabalho da professora Roberta Martinelli lança luz sobre as complexidades e disputas subjacentes às festas coloniais do Rio, revelando a diversidade e as tensões que marcaram essa parte da história brasileira. Este livro é essencial para estudiosos de história e para quem deseja compreender a cultura e as relações de poder desse período.
Texto de Enzo Tomaz Anselmo (estagiário de jornalismo) sob supervisão de Ricardo Zentgraf
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